Os passos poéticos de Joaquim Cardozo




    Se tem um nome memorável quando o assunto é a respeito da construção modernista brasileira, este nome é Joaquim Cardozo (1897-1978)!  Ele foi um famoso engenheiro pernambucano que trabalhou com Oscar Niemeyer, em diversas obras que, mais adiante aqui neste textinho vamos ver! Uma característica curiosa de Joaquim, que certamente auxiliou na integração dos dois em prol de um trabalho no qual deveriam dar espaço às ousadias nas composições plásticas, ou seja, ao uso da criatividade e da liberdade artística estética ao se projetar e construir, era o fato de que esse engenheiro também era um reconhecido poeta. Inclusive foi autor dos livros: Poemas, Signo Estrelado, O Interior da Matéria, Poesias Completas e Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias. Além disso, na dramaturgia, escreveu no gênero bumba-meu-boi: Coronel de Macambira, De Uma Noite de Festa e Marechal, Boi de Carro. E ainda no gênero drama: O Capataz de Salema, Antônio Conselheiro, Além do Pastoril e Os anjos e os Demônios de Deus.

    Esse verdadeiro poeta da construção foi descrito  por Oscar Niemeyer da seguinte forma: "Era o brasileiro mais culto que existia". Ficaram amigos e começaram a fazer trabalhos juntos na década de 1940. A partir de então, as formas de Niemeyer começaram a ganhar muito mais notoriedade aos olhos impactados do público, e segundo um renomado pesquisador de arquitetura Frederico de Holanda, autor de "Oscar Niemeyer: De Vidro e Concreto", o projeto do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, de 1944, foi um marco na Revolução da Arquitetura Brasileira:


      Joaquim Cardozo estava sempre disponível para auxiliar a estruturar as idéias mais ousadas, o que culminou nos maiores avanços da engenharia no Brasil daquela época.
       Com Oscar e Lúcio Costa construiu a cidade de Brasília (DF), tendo como mais reconhecidos os trabalhos dos cálculos estruturais de edifícios tais como: 

1- Palácio da Alvorada (1957-58):


2- Palácio do Congresso Nacional (1958-60):

3- Catedral Metropolitana de Brasília (1959-60):


4- Palácio Itamaraty (1959-1970):


       Pois é... e além de todos esses trabalhos, Joaquim ainda foi professor universitário brasileiro e editor de revistas especializadas em arte e arquitetura, como a revista 'Para Todos', dirigida por Jorge Amado. Com isso, como crítico e comentarista, pôde compartilhar de forma totalmente peculiar, suas experiências acerca da expressão e da concretização do universo artístico. 

        Bem, depois dessas impressionantes e inspiradoras histórias, embora breves... termino aqui com algumas palavras para nós, deixadas por esse memorável poeta da construção:


Eu te direi de amor em  frase nova:
Estátua na Ponte Maurício de Nassau, em Recife.

 
Verbo que em si conduz a singulares
Emanações fatais de escura prova
Que é força de ambições crepusculares

Eu te direi da flor que se renova
Em frondes de segredos seculares
Surgindo da clausura de uma cova
Em mutações tranqüilas e lunares

Direi também de folhas, de aventuras
Levadas velozmente nas alturas
Dos ventos e das asas vencedoras:

Mas de tanto dizer fique o silêncio
Que é cinza de palavras e que vence
O surto de inverdades tentadoras.

II
Por senda escura uma visão me leva...
Em vez dos claros rumos da manhã
Sigo um caminho, um chão feito de treva,
De légua de colina e de rechã.

Em vez do alvor das nuvens que me enleva
Das nuvens de que a tarde é tecelã
Olho o vulto da noite que se eleva
Ouço o vento do mar na telha-vã

Da noite preta que me estende os ubres
De novo sorvo os meus sonhos insalubres
E o leite sugo de imprecisas mágoas.

Do mar que ao fim de tudo há de me ter
Se o meu ferido corpo merecer
O encerro, o encanto e o cântico das águas.

III
Sobre o meu coração dedos de luvas,
Dedos sutis de mãos consoladoras,
Roçaram leves num roçar de chuvas
De vento e de verão sobre lavouras.

Mas se um vinho mortal de eternas uvas
A embriaguez me trouxe, e, aterradoras,
Fulgurações de rútilas saúvas
Meu sangue percorreram, salvadoras,

As tuas mãos lacustres me envolveram,
E de águas matinais frescor me deram...
Mãos e que mãos tão lúbricas e brandas!

As cores das manhãs que me inundaram
Enfim bruma e fantasmas dispersaram
De noites brancas, lívidas, nefandas.

(Poesias Completas 2ªed.1979, Civilização Brasileira)


Fontes:
-- http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/brasil/noticia/2012/12/06/niemeyer-e-joaquim-cardozo-harmonia-entre-os-opostos-65933.php
-- https://releiturape.wordpress.com/tag/joaquim-cardoso/
-- https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Cardoso

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